quarta-feira, 20 de maio de 2009

Tchôntchu

O meu primeiro amigo, aquele que me deu uma galinha para selar a nossa amizade que cativou os nossos pais e se tornaram grandes amigos.
Saímos de paisagens diferentes, ele aluno ambulante e eu fixo, encontrávamos na união de Mané de Luísa, que acabara de me resgatar a uma família problemática no meu primeiro ano do ciclo preparatório.
Gostava de conversar com ele porque era crítico, mais velho e era capaz de sair sempre da situação mesmo que em lugar seguro poder desatar os risos interrompidos. Infelizmente a vida nos reservava dias ausentes.
De Curral Grande em grandes cercos de caju e outros arbustos, trouxe a minha franguita para Fonti Lexú, arredores de S.Filipe mais conhecido por Bila, e no Sábado seguiria para Djé di Lorna na alta planície de Chã das Caldeiras.
Ele estudava no segundo ano e sabia que o próximo ano não era aceite porque tinha reprovado e já não passaria da idade limite. Tchôntchu sabia ser sério e pateta, podia consumir os mais velhos. Era um bom rapazinho!
Nessa altura a voz dele estava a engrossar e ele já me falava em conversas não próprias da nossa idade. Lá íamos a construir a nossa puberdade. O caderno dele já tinha dono os apontamentos estavam impecáveis: caneta tinta vermelha, negritos, perguntas e respostas… Agora era um bom aluno apesar de ter que fazer o percurso todos os dias Curral Grande/S. Filipe/ Curral Grande. Valeu a compaixão dos condutores da carreira que usavam a praça. Lembro-me de um carro Morim, das boleias que aproveitavam quando se penduravam, valeu também os dias que dormia em casa do Mané de Luísa que veio consolidar as nossas amizades a ponto de não deixar apagar memórias da infância apesar de passar trintena de anos. Nem João de Massim homem entendido nas coisas de saúde e tratamentos entendia porque o Joãozinho repetiu e deixa os alunos de “fôra” passar apesar de sacrifícios, nem Mané percebia como Moisés era “burru na Scola” si Tchôntchu tinha mais tempo a andar do que a estudar. Nem sequer tinha tempo de estudar! Levantava cedinho e chegava tardinha para cuidar dos animais da sua conta e descansar para o dia seguinte fazer a rotina.
Mané tentava dar aulas particulares para fazer Moisés entender aquilo, curiosamente uma coisa que ele não entendia¬¬, enquanto se enervava e a gritar para Moisés de olhos abarrotados de medo tremia que nem uma vara verde. Naquele menino pasmado sem resposta, irrita o Mané sem paciência, e se não fosse Nenezinha teria acontecido uma tragédia.

“Merda! Merda Scola! Ainda matas o menino. Melhor fique burro mas vivo. Não! Não! -gritava a mãe a suar. – Tinha acabado de chegar da Aguadinha na sua segunda lata de água.
Moisés era nosso amigo, mais pequeno, mas nas horas vagas ele não era santo nenhum. Com os colegas estava sempre ás turras. Incentivava-o sempre a umas lutas já que era armado em valente. Xerife era o seu grande rival, um oponente muito forte. Teimoso, corajoso, nunca desistia da luta. Mesmo que perdesse não negava a segunda vez. Gostava daquela atitude e adorava o puto, apesar das muitas desavenças.
Moisés estava para ser baptizada e os pais eram adventistas praticantes e pagavam dízimos, eles foram os primeiros a mostrar-me a Bíblia.
Um dia daqueles em que o Tchôntchu partilhava connosco perguntou ao Moisés se não comia carne de porco o que ele prontamente respondeu que era adventista, e o Tchôntchu meteu uma rasteira. Ah! É porque tenho aqui umas toresmas e não queria deitar fora!
Moisés deixou escapar Então dá!
(Cont.)

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