sábado, 14 de fevereiro de 2009

(entre-parenteses)





















Conversa tráz conversa. Quanta diferença está pensar futebol dos meus tempos de Fonsaco e os meus comentários trocistas hoje quando o Sporting escorrega.

Naquele tempo o respeito que dava aos adultos que me rodeavam, traduzia em sacrificar o meu desejo de dar dois fintos ao Mané di Kinha enervando-o até ao ponto de receber uma pedra no calcanhar. Custava arranjar uma bola, quase me tinham apanhado com a boca na botija, quando desapareceu um pé de meia do Djon que era costume repousar um pouco depois do almoço. Djon chegou mesmo a ficar chateado quando percebeu que as pessoas todas estavam a pensar numa relação cão e chulé. Ninguém tinha a coragem de dizer uma coisa daquelas do Djon, homem respeitado, com condições, tanto que é a primeira vez que aquilo acontecia e Floriano apesar de ser pequeno, o caõzinho tinha cinco anos. Nunca aconteceu o cão ir lá brincar com o odor das suas peúgas. Eu nem parei na turba para escutar o discurso da meia desaparecida, antes fazia gestos que estava á procura nalgum canto onde Floriano costumava brincar. A meia, já a tinha escondido num buraco para confeccionar uma boa bola! Irritado lá se foi o Djon procurar um outro par de meia numa daquelas gavetas da “mala-sakédu”. Intrigava-me aquela mala que Nhadonu trouxe de Merca. Lembro-me das pedras de damas, um jogo que o Nhadonu trouxe, mas nunca o vi jogar. Depois desviei para fazer rodas de um carrinho. Bem que podia trazer uma bola de plástico de Merka naquela mala, igual aquela do Armandu Mementu, mas Nhadonu era contra meninos a jogarem a bola. Estaria mais cotado o menino que aos olhos dos mais influentes da altura, afugentar um cão vadio aos varapaus do que estar a jogar a bola lá no “Pé di Tambarina”. Mais o pé de meia do Djon tenho eu para a minha bola nova. Sei que cometi alguns pecados mas quando fizer a minha bola com “papel di plástiku que eu já tinha recolhido, vai ser gostoso jogar sem convidar o Lencó que ontem não me deixou jogar na bola dele. A minha bola até dá para driblar e é maior do que a do Eusébio e do Lencó que foi feito meia de menino. Tundém deu uma “topada” ao rematar a bola do Eusébio. Ondem foi o Mané di Kuinha que ficou sem o “capaceti”. Mas também tinha um dedo propício a “topadas”, como eu ele tinha o dedo a seguir ao “dedon” muito comprido...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Guarda-Corbu























Sentado no pátio da casa do Mato, onde Lencó e João guardavam o corvo, podia ver Fonte Cabra e Fonsaco debaixo dos meus pés podia controlar os movimentos dos meus amigos que não guardavam corvos. Lá estão eles na “Belon” a jogar a bola de meia. Deve estar lá o Tundém di Nhónhó d’Ana, Mané di Quinha, Kistianu di Manzinha, Juan di Gustim – pensava eu enquando rabiscava no chão alguns arabiscos. Lembrei-me de António Muzim, que mesmo com a idade de ir para a tropa, lhe deu no tino fazer um avião de “isca de carapate” meteu lá dentro o seu sobrinho Eduardo de Madjada para Fonte Cabra num fio pesca improvisado, salvando o miúdo umas “purgueiras” cobertas de “gistibas” que abundavam naquele sítio. Depois de socorrer o sobrinho, António veio pra baixo gabarolar o seu feito, quando Keitano saiu e no seu jeito calmo de falar trocista atirou: oh seu Tutu armado em Gago Coutinho podias agora estar na gaiola por esta maluquice, ainda podias matar o rapazinho! É melhor tomares juízo! Despertei-me com um “tchapalate” de António Dimingu Sara, lá em cima a afugentar um bando de corvos que vinha dos lados do Toril.Levantei peguei do meu “tchapalati” deu dois estalos que achei serem ouvidos em Degolada. Passava muito tempo a confeccionar “fundas” e “tchapalatis”que oferecia a outros colegas de profissão.Ocupava algum tempo a construir o meu funco cortando e transportando as folhas de carapate verde para o penedo que faz uma lapa assim tenho menos parede para fazer e está mais bem acantonado da chuva, e ainda podia servir do penedo para torre de controlo e os estalos de “tchapati” ecoam nos regatos. Semeei umas covas de “sementeira”, mesmo á frente do funco dei todos os cuidados inclusive deitei água nos dias de “sol quente” só para depois ouvir a Mamanzinha gabar daquela cova que está na entrada do funco deu mais de dois litros de “baxinha”….

Terra Mãe Terra


Didicado á minha mãe Djena di Chuma

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

danillon: Tchan e Armand Montrond

danillon: Tchan e Armand Montrondalupeckatentadju.blogspot.com/

danillon: Tchan e Armand Montrond

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Tchan e Armand Montrond



Porque a maioria da população de Chã das Caldeiras tem a ver com este PERSONAGEM e pela história da Ilha do Fogo, este artigo de Agnelo Armando Montrond merece a nossa atenção.


Dedicatória póstuma: dedicamos este texto, uma verídica narrativa omnisciente versando a vida e a obra do legendário Armand Montrond, em homenagem e à memória do meu querido pai Agnelo Montrond, um exímio e verdadeiro pai exemplar, o primeiro que me ensinou a escrever o meu nome completo, Agnelo Armando Montrond. Que haja paz e sossego à sua alma no paraíso.

Importa fazer uma espécie de separação das águas entre tudo aquilo que foi criativamente transformado em mitos e contos, da realidade nua e crua, sem violinos de lua, do verdadeiro percurso do Conde Francês, Armand De Montrond, que nascera no dia 6 de Janeiro de 1844, em Grenoble, França. De nome completo François Louis Armand Fourchent De Montrond, Nho Erman di França, como era amavelmente chamado pelos foguenses de então, dispensava a honra e a dignidade, pois era tanta a morabeza com que o povo di Djarfogo lhe acolhera.

Cumpre-nos devidamente desmistificar os falsos, misteriosos, e inventados contos versando o assunto em epígrafe, e repor a verdade dos factos, através dos apontamentos que se seguem. Contrariamente aos outros, deliberadamente, não optaremos pela via de especulações, nem iremos pelo caminho de conjunturas falaciosas e insustentáveis, para seriamente compartilhar com todos, alguns elementos marcantes da vida e da obra do conde francês Armand Montrond, que chegara em Cabo Verde, no século dezanove.

Naquele tempo, era muito raro encontrar um português na ilha do Fogo, quanto mais um francês. O povo assumira muitas posturas de acordo com os conhecimentos do tempo e os acontecimentos da época. Em Cabo Verde residia de facto alguns estrangeiros, que fizeram desse arquipélago uma segunda pátria, por razões de ordens várias. De entre os que voluntariamente decidiram fixar-se em Cabo Verde, destaca-se o ilustríssimo Conde Armand De Montrond. Tudo indica que o Conde Montrond deixara a França porque não estava satisfeito com a situação política no país. Assim sendo, decidira partir à procura de uma nova vida e um novo lar algures, imbuído de uma filosofia filantrópica. Uma carta escrita pelo seu tio Maxime De Montrond revelara os ardentes desejos do Conde Montrond de viajar para as Américas. E na rota para a América do Sul, ele teria feito uma paragem em Cabo Verde, onde as beldades lhe fizeram prisioneiro até ao último suspiro, conforme rezam as informações que apuramos.


Provavelmente, fora no ano 1872 que o Conde Montrond chegara ao porto Grande em S.Vicente, onde ficara muito encantado com a nossa terra e o nosso clima tropical. No principio aventurou um pouco pelas ilhas de Cabo Verde, mas acabou por instalar-se na ilha do Fogo onde começaram as suas paixões e romances: Clementina, Camila, Demitilia, Josefa, Antónia, Guelhermina e Jesuina foram aturada e meticulosamente escolhidas “à la française” para serem as mães dos seus vários filhos. Escolheu Cabo Verde porque gostava muito desse arquipélago e desde logo ficou encantado com essas ilhas. Segundo Nha Jesuina, a mãe do seu último filho Armando Montrond, Fidjinho para os mais íntimos, o Conde Montrond regressara à Franca por duas vezes para ir buscar material de construção para o seu último sobrado em Achada Maurício. A última vez que foi para a França, fora aquando da morte da sua mãe Agustine.

O Conde De Montrond era um homem muito culto, um verdadeiro nobre que soubera se afirmar no espectro Aristocrata Francesa, numa altura em que a França se afirmava como sendo uma civilização avançada. O seu avo, o Dr. François Joseph Fourchent De Montrond, foi nomeado pelo Rei Luois XVIII para exercer o cargo de Chefe das repartições das finanças da região de Grenoble. Era também um membro oficial representante da Monarquia Francesa. O seu pai Ernest Fourchent De Montrond era engenheiro civil que exercera funções nas obras públicas, e chegara mesmo a receber a distinção “Legion D’honeur” no quadro militar, pelo Governo Francês, em reconhecimento do contributo e serviço prestado ao país.

Ele era muito querido pelo povo. Aliás, ele era realmente um “homem do povo” que fora seduzido por várias esbeltas mulheres, tendo cada uma delas merecido a construção de um sobrado: em Achada Maurício, no Baluarte, nos Mosteiros, em S. Felipe e também no Genebra. Importa realçar que foi ele quem baptizou o pequeno monte nas imediações de S. Felipe de monte “Genebra” porque era muito parecido com o “ Mont Genevre” localizado em Grenoble, França. Monte Genebra era uma das suas fazendas onde mantinha uma das suas várias residências.

Ao longo dos 28 anos que viveu em Cabo Verde, colocou a sua sabedoria e o seu Know how ao serviço dos foguenses, identificando fontes, construindo cisternas, estradas, mormente a famosa estrada “Volta Volta” que até ainda exibe o seu nome AM, uma assinatura que identifica e autentica todo aquele árduo trabalho.

Na total ausência de médicos e técnicos de saúde naquele tempo, conseguia habilmente tratar muitos doentes com ervas, infusões botânicas e outras plantas medicinais. Talvez seja por isso que se lhe atribuíam o poder mágico. Mas era de facto um médico porque cursou na universidade de Grenoble, na faculdade de medicina. Tinha experiencia na construção de estradas porque o seu pai era engenheiro e chefe das obras públicas da coroa Francesa naquela época.

Conforme rezam as seguintes belas palavras de uma bem triste morna cabo-verdiana: “Nu ben pa es mundu, nu ten ki bai pa séu, distinu sértu ki nu ten ki kunpri”, o Conde Montrond infelizmente teve que cumprir o seu destino e viera a falecer em 1900, quando tinha 56 anos de idade, na sequência de complicações de saúde, após ter caído do seu cavalo predilecto. Morreu o Conde e ficou a obra assim como os descendentes, alguns dos quais são loiros e de olhos azuis. Em reconhecimento do seu incansável contributo para o desenvolvimento da ilha do Fogo, foi construido um centro cultural francês em S. Felipe que foi baptizado Centro Cultural Armand Montrond, o qual seguramente fará parte da eternidade.

Toda a veracidade dos factos que exortamos neste exposto pode ser comprovada através de documentos oficiais originais e legítimos constantes do acervo da Biblioteca Nacional Francesa. Porém, há alguns que constam do Arquivo Histórico Nacional da França. Está a ser ultimado os trabalhos que irão culminar com a exibição de um filme documentário da autoria de um cineasta francês, num próximo futuro. A Família Montrond aproveita a oportunidade para agradecer sinceramente o director deste filme, Monsieur François Noulens, residente em Paris, pelo seu interesse pela história, sociedade e cultura cabo-verdiana.

Pelos bisnetos
Agnelo Armando Montrond aamontrond@yahoo.com
&
Alberto Mendes Montrond amontrond@aol.com
Estados Unidos Da América
23 de Novembro de 2008

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