sábado, 3 de janeiro de 2009

Crianças dos Mosteiros nos anos 70






TEMPOS DE INFÂNCIA
Corria os dias do ano de mil novecentos e setenta e dois, ainda tinha oito anos, andava na Escola Primária n.º 185 de Fonsaco, o meu professor o famoso José de Pina mais conhecido por Djédje Kéké, leccionou por largos anos. Tinha medo do Professor, apesar de ele ser um homem de estatura pequena achava-o com uma voz de general. Onde ele estava, eu estava em posição de alerta, pois se me alcançasse com os olhos em locais impróprios para alunos, o dia seguinte fazia algum comentário que me levava a “sabatina” ou algo para experimentar a minha capacidade de atenção na aula. Apesar de ser um bom aluno, não gostava de entrar por aqueles caminhos porque sempre havia alguma coisa que escapava. Naquele tempo para quem ainda se lembra o Mundo era escuro, pouca gente possuía um receptor de rádio, e muita gente reunia para ouvir a Rádio Clube Português. As Lembranças pela Rádio, ocupava um lugar de destaque. Às seis da tarde era a abertura com fecho às oito da noite. A partir desta hora não se ouvia nada, ou sintonizava rádio estrangeiro. As crianças não tinham por onde escolher. Depois das aulas era jogar a bola, um dos poucos divertimentos para os miúdos. Digo bola, mas bola era artesanal feito por nós, pequenos artistas, com peúgas rotas ou novas subtraídas. Raramente via uma bola de plástico. Armando Memento tinha uma, porque o pai era pensionista e era único filho, cheio de mimos até dos próprios colegas que abeiravam os pertences dele. Tinha muitos brinquedos que a gente não podia ter, e por isso ele tinha muitos amiguinhos desse tipo. Ele não era grande aluno, e era meu colega de carteira, e por isso dava-me “chuingas”, “drops” e eu ajudava a fazer os trabalhos de casa. Até me convidava a casa dele, para ter a certeza dos trabalhos prontos para o dia seguinte. Ele sempre levava dinheiro e ninguém questionava, os outros não ousavam porque nem os pais tinham. Lembro-me do José di Djimi Sandjon de ‘Ntóni Bás, comprava shewing gun só para coleccionar “actor”, um brinde que servia para pagar no jogo. Mas nessa altura esses brindes já tinham mudado para séries de animais, antes eram actores de Hollywood, e por isso ficou assim chamado. Raulinho di Denxo Denga, Lucindo Ximento, Ladi di Keitano, Chibinha Mámá di NhaLila, Quim di Bébé eram mais velhos e tinham “pacas” que faziam inveja, novos por um lado, repetidos por outro, e velhos para pagar . Todos os jogos serviam para transaccionar: madama, trinta e um, sete e meio, porrinha, carambola pion, enfim. Nha dono, ou melhor, o avô da minha madrinha reformado americano era um homem conhecido por todos, e muito respeitado, (tem ajudado meio-Mosteiros a embarcar para o Estrangeiro já que era difícil economizar) não gostava de ver os miúdos a jogar, que jogo é de bandidos que leva um homem por maus caminhos. Todo o jogo era proibido por ele. Não importa se não era neto dele. Mandava qualquer um que agarrasse o prevaricador que depois levava puxões de orelha ou palmatórias no Sinhor Raúl di Denga, este grande alfaiate até fazia fato sem nenhuma diferença com os que vinham de “Merca”, e professor particular, tinha a tarefa de “desimburrar”.
Nha dono não deixou escapar esta oportunidade. Á tarde incluindo domingos e feriados Ka Sinhó Raú talvez mais no intuito de me ocupar os meus tempos livres. Sinhó Raú não era brincadeira. Quando houvesse motivos tanto de aprendizagem ou de brigas ou birras arregalava os olhos e falava baixinho e muito rápido aplicava a varinha de marmelo religiosamente guardada numa bacia com água. Doía lá no fundo. Não muito menos a famosa palmatória que mandou fazer de mogno depois de Matezinho ter gabado de partir quando pôs “cocó di galinha” nas mãos antes de receber palmatória. Por uns dias Matezinho era o nosso herói. Ficamos quase uma semana sem a Palmatória. Na semana seguinte com aquele ar severo chamou Matezinho para provar a nova palmatória este só tinha um buraquito no meio da bolacha. O Raúl era astuto pois só um buraco causava uma dor horrível, parecia que era um cravo a atravessar a palma da mão. Com esta atitude todos deixaram de lá ir, escondiam pelos caminhos até que os pais pergutassem como vai o menino. Descoberto a artimanha sempre era levado para receber o castigo. Preferiram trabalhar na estrada como menor do que ir á escola. O destino estava traçado para aqueles que não gostam de estudar. Eu não podia fugir. Primeiro porque Nhambapu tinha um exercito para me procurar e o que seguia depois da descoberta era insuportável. Segundo, eu tinha medo de finado e da noite. Mas também não tinha razão do Matezinho, ele não tinha cabeça para aquilo e eu ás vezes ouvia da boca do Sinhó Raú muitos elogios. Graças a ele e ao meu medo de apanhar tinha a melhor caligrafia da zona. O professor da Escola oficial me elogiava e os colegas também. Sempre pedia bênção aos mais velhos e fazia os mandados que solicitavam, apesar de não gostar nada que me mandassem. Era salutar que um menino da minha idade soubesse respeitar e obedecer antes que caísse nas malhas do Sinhor Raú, pois havias mais Sinhó Raú por aí. Gustin di Diminga um tipo de cabo chefe não ria nem falava muito, Keitano, Kuito Milha, e mais…
Tinha que evitar colegas insolentes como Tundém di Nhónhó d’Ana. Ele tinha a capacidade de fugir a essas sevícias, porque não ligava ninguém, nem os pais e podia dormir no monte por dois ou três dias. Era difícil não entrar com ele pois ele dava mais de duas brigas por dia. Quase todos os dias brigávamos porque pertencia ao mesmo quilómetro quadrado que eu, e ele queria ser sempre o chefe, e eu não aceitava…. (cont.)

2 comentários:

Burcan disse...

Grande primo. Kuza go saí pisadu, cheiu di emosaun, cheiu di nostalgia.Kampiaun propi. Nho po um go sobri txan, dia natal, dia di badju, dia di festas ku nôs povu sabi...kel abrasu grandi di primu nho.

Anónimo disse...

Na anos 70 nen N ka pensaba nese inda, ma N konxe arguns di kes argen di kel passagem li. Ma inda N foi di tenpu parmatoria ku bara marmelu. So 1 bes na bida ki N tuma un bara marmelu na kosta N ka dizejal nunka mas.

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